✡️ Romanos 4: A Incircuncisão de Abraão e a Salvação da Fé
Você já parou para pensar como uma história pode ser contada de jeitos diferentes, dependendo de quem a conta — e para quê? Paulo, em Romanos 4, faz exatamente isso. Ele pega a história de Abraão, tão conhecida pelos judeus, e a reconstrói. Não mudando fatos, mas relembrando as intenções de Deus que sempre estiveram lá.
“Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça.” (Romanos 4:3 / Gênesis 15:6)
Com essa única frase, Paulo desafia séculos de interpretação legalista que estavam crescendo à sua volta. Ele diz: não foram os méritos, os rituais ou a linhagem que justificaram Abraão. Foi a fé. E não uma fé genérica, mas a fé no Deus que promete o impossível — e cumpre.
👣 A Caminhada de Abraão Começa na Graça
Abraão foi chamado quando ainda era um gentio em Ur dos Caldeus. Antes da circuncisão. Antes da Lei. Antes de qualquer mérito. O que havia? Uma promessa. Um chamado. E uma resposta de fé.
E isso muda tudo.
Paulo está dizendo: “Olhem o pai de vocês. Olhem como tudo começou. A graça não foi um plano B. Foi o plano A desde sempre.”
🪧 Circuncisão? Sim, mas como sinal
Se a fé veio primeiro, e a justiça foi imputada pela fé (Rm 4:9–10), então a circuncisão não foi a causa da salvação — foi o selo (Rm 4:11). Uma marca externa de uma realidade interna.
Quantas vezes confundimos isso? Tornamos os sinais (os mandamentos, as práticas, os ritos) em fontes de justiça, quando na verdade eles foram dados como resposta à graça, não como condição para recebê-la.
Paulo não está rejeitando a circuncisão — ele está devolvendo a ela o seu lugar certo: não como troféu, mas como testemunho.
🧱 E o que dizer da Lei?
Paulo continua:
“Porque a promessa… não foi feita pela Lei a Abraão… mas pela justiça da fé.” (Romanos 4:13)
Isso precisa ser ouvido com o coração certo. Paulo não está dizendo que a Lei (Torá) é ruim. Ele está dizendo que ela não foi o canal da promessa. A promessa veio antes, e a Lei veio para estruturar a vida do povo já salvo, já separado, já amado.
A Lei não veio para gerar salvação, mas para moldar uma vida de gratidão diante da salvação recebida. O problema foi quando o sistema religioso do seu tempo invertia isso, e fazia parecer que cumprir os mandamentos era o caminho para alcançar a promessa — e não uma resposta de quem já foi abraçado por ela.
🕊️ A Graça Já Estava no Ar
A Bíblia como um todo já mostrava isso — e é uma das percepções mais espiritualmente maduras que alguém pode ter ao ler o Tanach:
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Noé achou graça.
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Abraão foi chamado sem mérito.
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Jacó enganou, mas foi alcançado.
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Os irmãos de José venderam-no, mas Deus os preservou.
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Moisés recebeu a Lei num ambiente de aliança, não como condição para a aliança.
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Os Salmos cantam a misericórdia.
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Os Profetas clamam por um coração novo.
Ou seja: a graça não é novidade. Ela é o sopro que dá vida à Torá. Paulo não está dizendo “adeus” à Lei — ele está dizendo: “Vocês esqueceram a sua alma.”
⚔️ O Combate Real: Justiça por Fé vs. Autojustiça
Paulo está lutando contra um pensamento que se infiltrou e se tornou dominante entre muitos do seu tempo: a justiça própria como base para herdar a promessa. Isso não é apenas um erro doutrinário — é um erro de leitura da própria história de Israel.
E esse pensamento — etnocêntrico, meritocrático, nacionalista — se levanta como um falso muro entre Deus e o homem. Paulo está dizendo: esse muro precisa cair. E, ao derrubá-lo, ele não está negando o judaísmo — está resgatando-o em sua forma mais pura.
📣 Então, o que isso nos diz hoje?
Talvez você tenha sido ensinado a buscar aprovação de Deus pelos seus méritos. Talvez você ache que precisa estar “em ordem” para ser amado, aceito, justificado. Mas Paulo — esse rabino cheio do Espírito — está dizendo:
“Não. Começa com fé. Começa com confiar. Começa com um Deus que chama antes que você tenha algo a oferecer.”
E quando essa graça te encontra — como encontrou Abraão, Noé, Davi, Paulo — você não vai querer continuar o mesmo. Você vai obedecer, sim. Vai buscar cumprir os mandamentos. Vai amar a justiça. Vai honrar a Torá. Mas não para comprar o favor de Deus — e sim porque você já o tem.
🙏 Conclusão Devocional
Romanos 4 não é um tratado de teologia sistemática. É uma convocação a voltar às origens do povo da promessa. A crer como Abraão. A se quebrantar como Davi. A esperar como os profetas.
E acima de tudo, é um chamado para reconhecer:
A salvação sempre foi pela graça.
A resposta sempre foi a fé.
A obediência sempre foi fruto, nunca raiz.
Yeshua não nos chama para fugir da Torá. Ele nos chama para cumpri-la com o coração certo. E Paulo, o ex-perseguidor que se tornou apóstolo, está nos dizendo com lágrimas e convicção:
“O justo viverá da fé.” (Rm 1:17)
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