✡️ Quando o “plural” não é plural: do português ao hebraico bíblico
No português, temos palavras que terminam em -s e que não mudam no singular ou no plural. Pense em ourives, lápis, pires.
Se eu digo o lápis azul (singular) e os lápis azuis (plural), a forma do substantivo não muda em nada. Quem indica o número (singular ou plural) é o artigo (o/os) e o adjetivo concordante (azul/azuis).
Nesse caso, o -s não é um marcador de pluralidade. Ele faz parte da própria forma fixa da palavra — o morfema lexical. É a sintaxe (as palavras que acompanham) que nos diz se estamos falando de um ou de vários.
No hebraico bíblico, encontramos algo semelhante no termo Elohim (אֱלֹהִים).
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A terminação -im é, sim, o morfema usual de plural masculino.
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Mas, em certos contextos, essa terminação não indica pluralidade real, e sim plural de majestade ou plural intensivo — uma forma de engrandecer o sujeito, não de multiplicá-lo.
📖 Vamos ver isso logo no primeiro versículo da Torá:
בְּרֵאשִׁית בָּרָא אֱלֹהִים (Bereshit bara Elohim)
“No princípio, criou Deus…” (Gênesis 1:1)
Aqui, a chave está no verbo bara (בָּרָא) — “ele criou” — que está na terceira pessoa do singular.
Se Elohim fosse realmente plural numérico, o verbo deveria estar no plural (baru, “eles criaram”). Mas não está. A sintaxe deixa claro: o sujeito é único.
💡 Assim como no português com lápis, não é a forma da palavra sozinha que nos diz se é singular ou plural — é a concordância da frase.
No hebraico, a determinação do número gramatical também não se apoia exclusivamente na morfologia do substantivo, mas depende da concordância verbal e do contexto.
No caso de Elohim em Gênesis 1:1, o verbo no singular confirma que estamos falando de uma única entidade divina. A forma plural aqui é apenas um recurso linguístico para expressar grandeza e majestade, não multiplicidade de pessoas.
Para nós, na fé judaico-messiânica unicista, essa observação é fundamental:
O Deus de Gênesis 1:1 é o mesmo que se revelou progressivamente ao longo da história e que se manifestou plenamente em Yeshua. Pluralidade de manifestações, sim; pluralidade de pessoas divinas, não. O Eterno é Echad — absolutamente um.
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