Porque não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto.

Você já reparou que Yeshua, ao ensinar sobre árvores e frutos, estava evocando mais do que simples lições agrícolas? Ele estava puxando da memória coletiva de Israel um quadro antigo — um frame — que remonta ao Éden. Árvores boas, árvores más, frutos que parecem bons mas trazem morte… tudo isso ecoa o primeiro jardim.

E aqui entra algo curioso: a Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal nunca recebeu de Deus o selo de aprovação “e viu Deus que era bom”. Pelo contrário, ela carrega no próprio nome a presença do “mal”. Não era o mal em ação, mas o mal potencial — estático, como uma bomba relógio aguardando a decisão humana para se manifestar no mundo.

1. Os frames de Yeshua: ativando a memória do Éden
Quando Yeshua diz: “Não há árvore boa que produza fruto mau” (Lc 6:43) ou “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7:16), Ele não está apenas falando de comportamento.

Ele está reacendendo na mente dos ouvintes a imagem daquela primeira árvore proibida.
Era como se dissesse: “Vocês se lembram da primeira vez que um fruto atraiu o olhar, mas trouxe morte? Cuidado, há frutos assim hoje, disfarçados de piedade.”

Esse é um uso típico da linguística cognitiva: evocar uma narrativa fundadora para enquadrar (framing) a interpretação de uma situação presente. Ao falar de árvores e frutos, Ele fazia o público navegar mentalmente até Gênesis 3.

2. Mulher, visão, desejo: a religião como fruto proibido
Gênesis nos diz que “a mulher viu que a árvore era agradável aos olhos, desejável para dar entendimento” (Gn 3:6).

A “mulher”, nesse frame, pode ser vista como símbolo da religião — algo que deveria receber e transmitir a vida de Deus, mas que, seduzida pela aparência e pelo desejo de status espiritual, acaba ingerindo o fruto errado.

É aqui que Yeshua confronta os fariseus: eles eram árvores más, com aparência justa (“sepulcros caiados” – Mt 23:27), oferecendo frutos que pareciam conduzir ao conhecimento de Deus, mas eram venenosos — obras que alimentavam orgulho, não vida.

3. O paralelismo que expõe o engano

  • No Éden, a serpente ofereceu autonomia: “sereis como Deus” (Gn 3:5).

  • No farisaísmo, a religião oferecia autojustiça: “cumprindo a Lei à risca, alcançaremos mérito diante de Deus.”
    Ambos trocam a dependência de Deus pela independência orgulhosa.

A árvore má no Éden era um teste de confiança. A árvore má no tempo de Yeshua era a religião que prometia salvação sem graça. Em ambos, o convite era: “Você não precisa depender totalmente de Deus. Você pode ser suficiente em si mesmo.”

4. O antídoto: a Árvore da Vida restaurada
Se a árvore má gera morte, só a Árvore da Vida pode restaurar. Em Apocalipse 22, essa árvore aparece novamente, suas folhas curando as nações — e ela é figura do próprio Messias.

Enquanto Adão e Eva estenderam a mão ao fruto errado, Yeshua estende Sua própria vida como fruto bom, doce ao paladar e gerador de vida eterna.

Conclusão devocional
O convite de Yeshua não é apenas “evite árvores más”, mas “permaneça em mim, e dará muito fruto” (Jo 15:5).

Ele sabe que há frutos que brilham, mas matam; e há frutos que exigem fé para serem colhidos, mas salvam. O Éden e o farisaísmo nos lembram que o engano muitas vezes vem revestido de piedade ou beleza.

Sobre o autor | Website

Israel Silva é apaixonado por hebraico, Torá e Judaísmo. É também autor de diversas mensagens e estudos bíblicos, professor graduado em Letras, leciona hebraico bíblico para estudantes, pastores e teólogos. Cursou o contexto judaico do Novo Testamento, Geografia da terra de Israel. É especialista em estudos da Bíblia Hebraica pelo Israel Instituto de Estudos Bíblicos.

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