✡️ O Shemá Israel e a Unicidade Absoluta de Deus: Uma Análise Linguística e Cognitiva

Texto Base – Devarim (Deuteronômio) 6:4

שְׁמַע יִשְׂרָאֵל יְהוָה אֱלֹהֵינוּ יְהוָה אֶחָד
“Ouve, Israel: Adonai, nosso Deus, Adonai é um.”

O Shemá Israel é uma das declarações mais centrais da fé de Israel. Nele, encontramos uma afirmação simples na forma, mas profunda em significado: há somente um Deus, absolutamente único.

Muitos leem o verso rapidamente, mas uma observação atenta da morfologia e da pragmática revela um recurso linguístico intencional — um movimento que leva o ouvinte da percepção de pluralidade para a certeza da unicidade divina.

📜 1. Morfologia: a forma das palavras

O verso contém três elementos-chave:

  1. Adonai (יְהוָה) — Nome próprio sagrado, sempre usado no singular absoluto.

  2. Eloheinu (אֱלֹהֵינוּ) — “Nosso Deus”. Vem de Elohim, morfologicamente plural, com sufixo possessivo “-einu” (nosso).

  3. Echad (אֶחָד) — Numeral/adjetivo que significa “um só”, “único”.

Aqui, o hebraico utiliza um termo plural (Elohim) para se referir ao Deus único, mas imediatamente corrige qualquer interpretação politeísta com Echad, reforçando sem margem para dúvidas: Ele é um só, uma única pessoa divina.

💬 2. Pragmática: a intenção comunicativa

A pragmática observa como a forma do texto molda a compreensão do ouvinte.
No Shemá, há um “movimento cognitivo” claro:

  • Início: o plural morfológico (Eloheinu) pode sugerir ao ouvinte múltiplas manifestações, atributos ou títulos do Eterno — algo natural à percepção humana.

  • Fechamento: o termo Echad é o ponto de fechamento que reinterpreta tudo: “Não confunda pluralidade de manifestações com pluralidade de pessoa divina.”

🧠 3. Epistemologia: percepção e realidade

Nossa compreensão de Deus é limitada pelos “sensores” cognitivos que possuímos. Assim como não vemos o calor diretamente, mas sentimos seus efeitos, percebemos Deus por meio de nomes, metáforas e ações — o que pode gerar impressão de pluralidade.

O Shemá é um lembrete linguístico e espiritual: essa pluralidade percebida é fruto de nossa limitação, não da natureza divina.
O fechamento com Echad funciona como uma calibração teológica, trazendo-nos de volta à verdade: o Eterno é um só, indivisível, uma única pessoa divina.

🔍 4. O “paradoxo intencional”

O verso é um exemplo de paradoxo linguístico-intencional:

  • Forma plural → percepção de multiplicidade

  • Palavra final → afirmação categórica de unicidade

A própria estrutura do Shemá “educa” a mente:

Pluralidade percebida → Redirecionamento → Unicidade absoluta

❤️ 5. Aplicação espiritual

Para quem crê no Deus de Israel, o Shemá não é apenas doutrina, mas um chamado diário à fidelidade e exclusividade na adoração. Ele nos lembra que, por mais que experimentemos diferentes facetas da Sua ação, nossa devoção pertence somente a um único Senhor — indivisível, sem partilha de Sua glória com outro.

✝️ 6. O papel de Yeshua

Isso se encaixa perfeitamente com o papel da revelação de Yeshua como a maior manifestação do Eterno entre os homens. Dentro da fé messiânica unicista, entendemos que Yeshua não é uma segunda pessoa divina, mas o próprio Deus que se revelou em forma humana, cumprindo Suas promessas e tornando visível aquilo que é eterno e invisível.

Assim como no Shemá, a pluralidade de manifestações não nega a unicidade — antes, a confirma. Yeshua é a expressão máxima dessa verdade: o Único que é Echad se fez conhecer de forma plena para salvar e redimir.

Sobre o autor | Website

Israel Silva é apaixonado por hebraico, Torá e Judaísmo. É também autor de diversas mensagens e estudos bíblicos, professor graduado em Letras, leciona hebraico bíblico para estudantes, pastores e teólogos. Cursou o contexto judaico do Novo Testamento, Geografia da terra de Israel. É especialista em estudos da Bíblia Hebraica pelo Israel Instituto de Estudos Bíblicos.

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