O que Jesus Fez com a Lei em Efésios 2:15? Cancelou ou Elevou? Veja no Original

🌿 Introdução: A Suposta “Abolição” da Lei

Efésios 2:15 é um dos textos mais citados para afirmar que “a Lei foi abolida”. Mas será que Paulo realmente quis dizer isso? O verso menciona que Yeshua aboliu “a lei dos mandamentos em forma de ordenanças” — no grego: νόμον τῶν ἐντολῶν ἐν δόγμασιν (nomon tōn entolōn en dogmasin).

A leitura tradicional interpreta isso como um rompimento com a Torá. Porém, quando voltamos às raízes judaicas, à tradição rabínica e ao próprio uso das palavras, o que encontramos é algo muito mais profundo e coerente com a Torá.

Yeshua não anulou a Lei. Ele colapsou os rituais que dividiam, transformou os estatutos sacrificiais e ressignificou a prática da minchah (oferta de cereal) em algo eterno: o pão e o vinho da Ceia.

📖 Dogmasin e Chukot: A Linguagem da Lei

O texto grego usa dogmasin (δόγμασιν), plural de dogma, uma palavra que originalmente se referia a decretos, edições ou ordenanças — geralmente de origem humana ou institucional. No Novo Testamento, dogmasin aparece raramente, mas quando aparece, sempre carrega a conotação de regulamentos normativos, como em decretos romanos ou decisões doutrinárias apostólicas.

Já na Torá, temos uma categoria específica de mandamentos chamados chukot (חֻקּוֹת) — “estatutos” que, diferente das mishpatim (leis com base racional), são preceitos sem explicação lógica evidente, como:

  • Kashrut (leis alimentares)

  • Pureza ritual

  • Ritos sacrificiais (como o chatat – oferta pelo pecado)

A versão hebraica da Peshitta, traduzida pela Sociedade Bíblica de Israel, traduz dogmasin justamente como chukot, revelando que o foco de Paulo está nesses estatutos rituais — e não na Torá como um todo.

🔄 “Colapsou”, Não “Cancelou”

A chave está no verbo usado por Paulo: καταργήσας (katargēsas), do verbo katargeō. Ele não significa literalmente “abolir” no sentido jurídico absoluto. Seu significado mais preciso é:

“Tornar inoperante”, “desativar um sistema anterior”, “reduzir à inutilidade prática por superação”.

Isso muda tudo. Yeshua não cancelou a Torá. Ele colapsou o sistema de estatutos sacrificiais e encerrou o ciclo do sangue repetitivo, cumprindo de forma plena aquilo que o chatat apenas simbolizava.

🩸 O Chatat Cumprido no Corpo de Yeshua

As chukot referentes ao korban chatat (oferta pelo pecado) envolviam a repetição anual, com derramamento de sangue, como parte do sistema do Templo. Paulo afirma que Yeshua, em sua carne, colapsou esses mandamentos — porque nEle o pecado foi tratado de forma definitiva (Hebreus 10:12-18).

Esses estatutos não foram anulados arbitrariamente, mas cumpridos na carne do Messias. Ele não rejeita o sistema — Ele é o único capaz de encerrá-lo por completude.

🍞🍷 A Minchah Messiânica: A Ceia do Senhor

Na tradição da Torá, a minchah é a oferta de cereal — sem sangue, sem morte, símbolo de consagração, gratidão e comunhão. Muitos rabinos, como o Midrash Tanchuma, afirmam que na era messiânica só restará a minchah e a oferta de gratidão (todá).

Yeshua não só cumpre essa profecia — Ele a transforma na Ceia:

  • O pão (minchah): símbolo de Seu corpo.

  • O vinho (libação): símbolo do sangue da nova aliança.

A Ceia não é um memorial vazio. É o cumprimento ritual messiânico da minchah — o sacrifício sem sangue, permanente e universal.

✡️ Paulo: Derrubando Barreiras, Não Mandamentos

Efésios 2:15 deve ser lido junto com os versos anteriores e seguintes. O contexto é a inimizade entre judeus e gentios, causada pelas barreiras rituais: circuncisão, pureza, sacrifícios. O que Yeshua “derruba” não é a Torá, mas a função excludente dos chukot, que impediam a comunhão entre os povos.

Ele não cancela os mandamentos. Ele os reorienta para o coração (Jeremias 31:33) e remove os intermediários cerimoniais (Efésios 2:18: “por Ele ambos têm acesso ao Pai em um só Espírito”).

🕎 A Tradição Judaica Nunca Anulou a Torá

Rabinos como Maimônides e os sábios do Talmud sempre reconheceram que:

  • Os korbanot (sacrifícios de animais) eram temporários.

  • Na era messiânica, os sacrifícios cessariam naturalmente — não por abolição, mas por irrelevância.

Menachot 110a afirma: “No futuro, todos os sacrifícios cessarão, exceto a minchah.”

Yeshua, como o Cordeiro e como o Pão, cumpre esse ciclo escatológico — sem negar a Torá, mas dando-lhe carne e permanência.

🕯️ Conclusão: A Torá em Plenitude, Não em Extinção

Efésios 2:15 é frequentemente mal interpretado. Paulo não ensina o fim da Lei, mas:

  • O colapso dos rituais de separação, cumpridos no corpo de Yeshua.

  • A ressignificação dos estatutos sacrificiais, agora incorporados na Ceia.

  • A união de judeus e gentios em um só corpo, com acesso direto ao Pai.

A minchah messiânica não é uma metáfora. É pão e vinho, corpo e sangue, vida compartilhada na comunhão.

“Cristo é a realidade da qual essas coisas eram sombras.” (Colossenses 2:17)
“Não vim abolir a Torá, mas cumprir.” (Mateus 5:17)

🕊️ Em Yeshua, a Torá se torna carne e permanece para sempre.

Sobre o autor | Website

Israel Silva é apaixonado por hebraico, Torá e Judaísmo. É também autor de diversas mensagens e estudos bíblicos, professor graduado em Letras, leciona hebraico bíblico para estudantes, pastores e teólogos. Cursou o contexto judaico do Novo Testamento, Geografia da terra de Israel. É especialista em estudos da Bíblia Hebraica pelo Israel Instituto de Estudos Bíblicos.

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