O Nascimento Sobrenatural do Messias na Tradição Judaica Sobre Sete – Genesis Rabah
Vamos construir esse estudo como se fosse uma conversa onde o midrash (parte da tradição judaica) e a reflexão devocional se entrelaçam.
O fio condutor será o nascimento de Sete em Bereshit Rabá (livro de comentários sobre o Gênesis) e como isso aponta, desde o início da Torá, para a esperança do nascimento sobrenatural do Messias.
“A outra semente”
📖 Gênesis 4:25
“E Adão conheceu novamente sua mulher, e ela deu à luz um filho e chamou o seu nome Sete; porque, disse ela, ‘Deus me concedeu outra semente em lugar de Abel, que Caim matou.’”
1. A voz do Midrash
No livro Bereshit Rabbah 23:5, ao comentar essa passagem, o texto rabínico destaca algo intrigante:
Eva não disse ben (“filho”), mas zéra (זרע, “semente”, “descendência”). E então vem a interpretação do próprio Midrash:
“Outra semente, de outro lugar. Quem é esse? Este é o Rei Messias.”
Aqui, a linguagem do Midrash quebra a expectativa natural:
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Ben é o termo mais direto para “filho” — indica um nascimento normal, pela via comum da genealogia.
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Zéra, no hebraico bíblico, carrega um sentido de continuidade da promessa divina, às vezes com origem extraordinária, como em Gênesis 3:15: “A semente da mulher esmagará a cabeça da serpente.”
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Acher (אחר, “outro”) sugere algo qualitativamente diferente, não apenas numericamente distinto.
O Midrash junta tudo e vê aqui um prenúncio do Messias.
2. Vamos dialogar
💬 “Mas por que Eva falaria de um Messias já naquele momento? Ela não estaria apenas lamentando a morte de Abel?”
📜 Resposta: O contexto do Éden e da promessa de Gênesis 3:15 já tinha colocado no coração da humanidade a expectativa de um Libertador. Ao dizer “outra semente” — e não apenas “outro filho” — Eva conecta seu parto à promessa divina de vitória sobre a serpente. O Midrash reconhece essa ligação e a projeta para o futuro messiânico.
3. Um traço linguístico que ilumina
A linguística cognitiva nos ajuda aqui:
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Palavras não carregam apenas significado denotativo, mas também frames — molduras mentais ativadas na memória coletiva.
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No hebraico bíblico, “zéra” ativa o frame da aliança e promessa divina (Abraão, Davi, promessa messiânica).
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Assim, mesmo que Eva tivesse uma consciência parcial, a escolha dessa palavra constrói no imaginário do leitor hebreu uma ponte até o Messias.
4. Ecos proféticos
Vários textos ecoam essa ideia de origem extraordinária:
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Isaías 9:6 – “Seu nome será Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.”
(Aqui, a identidade é tão extraordinária que o nome transcende categorias humanas.) -
Miquéias 5:2 – “De ti me sairá o que há de reinar em Israel, cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.”
(Origem não meramente terrena.) -
Salmo 110:4 – “Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.”
(Uma linhagem espiritual, não carnal.)
No judaísmo do Segundo Templo, essas passagens formavam um mosaico da expectativa messiânica — e o Midrash sobre Sete se encaixa nesse mosaico.
5. Aplicação devocional
Quando lemos que Eva recebeu “outra semente” e que essa “semente” é o Messias, somos lembrados de que:
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A promessa de Deus não morre com as perdas humanas.
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Mesmo quando a linhagem aparente é quebrada, Deus gera um novo começo “de outro lugar”.
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O nascimento do Messias não dependeria da força humana, mas de intervenção sobrenatural.
💬 “Então, desde Sete, Deus já estava sinalizando que o Messias viria de forma incomum?”
📜 Resposta: Sim. O Midrash vê o nascimento de Sete como mais do que um evento familiar — é um protótipo da intervenção divina que culminaria no nascimento do Messias, aquele cuja origem é “de outro lugar”.
6. Conclusão
O Bereshit Rabbah nos convida a enxergar, na escolha de uma única palavra, um horizonte messiânico. A “outra semente” não é apenas um consolo para Eva — é o anúncio silencioso de que, mesmo quando a história parece quebrada, Deus prepara um nascimento que rompe as leis naturais e realiza Sua promessa.
E dizia-lhes: Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo. João 8:23
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