📖 Graça sobre Graça: Um Só Deus, Uma Só História | João 1:16
“Porque todos nós temos recebido da sua plenitude, e graça sobre graça.”
(João 1:16)
🧭 Introdução: O Fim do Mito da “Graça vs Lei”
Você já ouviu isso em algum lugar?
“No Antigo Testamento era só lei, juízo e condenação. Mas graças a Deus que agora estamos no tempo da graça!”
Essa frase parece familiar, né?
Mas o que vamos descobrir juntos é que essa ideia — ainda muito pregada — não é fiel ao que a Bíblia realmente ensina. Ela separa o que Deus uniu. Pior: ela constrói, sem querer, um tipo de cristianismo antijudaico, que rejeita as raízes da nossa fé e faz parecer que o Deus da antiga aliança era severo, e só em Jesus Ele se tornou “bondoso”.
Só que… o Deus da graça sempre foi o mesmo.
📜 1. Entendendo João 1:16 — O que é “Graça Sobre Graça”?
João começa o seu evangelho falando da Encarnação de Jesus: o Verbo eterno que “se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade” (Jo 1:14).
E então ele diz:
“Todos recebemos da sua plenitude, graça sobre graça.”
Mas o que isso quer dizer?
Não é uma oposição entre duas coisas (“graça contra lei”), mas uma camada sobre camada. Como ondas que se empilham:
🌊 Uma veio com Moisés — a Lei.
🌊 Outra veio com Jesus — a graça plena.
Mas as duas são do mesmo mar. Do mesmo Deus.
🔍 2. A Primeira Graça: A Lei de Moisés
Sim! A Lei foi graça.
Espere… a Lei era graça?
Sim. A Lei (Torá) dada por Deus a Israel não foi um castigo, foi um ato de amor e orientação. Olha o que o salmista diz:
“A Lei do Senhor é perfeita, e restaura a alma” (Sl 19:7)
“Oh, quanto amo a tua Lei!” (Sl 119:97)
A Lei trazia:
-
Justiça social (cuidar do pobre, do estrangeiro, do órfão).
-
Limites ao poder (reis não podiam fazer o que queriam).
-
Um sistema de sacrifícios que oferecia perdão.
E aqui está a chave:
O perdão já era gratuito.
No dia da Expiação (Yom Kippur), o pecador não levava nada. Ele só jejuava e se humilhava.
O sacerdote fazia o sacrifício por ele — usando animais do estoque do Templo.
👉 O povo não comprava o perdão.
👉 Ele recebia por graça, dentro do sistema que o próprio Deus instituiu.
✝️ 3. A Graça Plena: Jesus, o Cordeiro de Deus
Agora chegamos à segunda camada.
João Batista, ao ver Jesus, disse:
“Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!” (Jo 1:29)
A Lei tinha muitos cordeiros.
Mas Jesus é O Cordeiro.
Ele não veio destruir a Lei. Ele disse:
“Não pensem que vim revogar a Lei… vim cumprir” (Mt 5:17)
Cumprir aqui não é “acabar com”, mas dar pleno sentido.
Jesus:
-
Tornou-se o Sumo Sacerdote perfeito.
-
Tornou-se o Cordeiro definitivo.
-
Tornou possível que todos, em qualquer lugar, recebessem perdão sem precisar ir ao Templo.
🧬 4. Continuidade, Não Ruptura
Vamos deixar isso bem claro: não estamos falando de dois planos diferentes, mas de um mesmo plano que amadureceu e se revelou plenamente em Jesus. A seguir, veja como a graça da Lei e a graça de Cristo se complementam — não se contradizem:
-
Perdão no Templo
→ No sistema da Lei, o perdão era concedido por meio dos rituais no Templo, especialmente em festas como o Yom Kippur, mas também por meio do arrependimento direto, sem a necessidade de sacrifícios (exemplo, o perdão ao ninivitas). -
Perdão na Cruz
→ Em Yeshua, esse perdão se tornou definitivo e acessível a todos, por meio do sacrifício único feito na cruz.
-
Sacrifício coletivo
→ A Lei prevê os sacrifícios feitos pelo povo como um todo — o sacerdote intercedia em nome da nação. -
Sacrifício pessoal
→ Em Yeshua, o sacrifício é direcionado ao coração de cada pessoa. É pessoal, íntimo, relacional.
-
Mediação por sacerdote
→ O povo judeu precisava de um sacerdote humano, da linhagem de Arão, para cumprir os rituais ordenados por Deus. -
Mediação pelo Messias
→ Agora, temos Yeshua como nosso Sumo Sacerdote eterno, nós acessamos o Pai Nele.
-
Graça ritual
→ A primeira graça operava dentro de rituais, dias santos, sacrifícios, festas. Era real e simbólica ao mesmo tempo. -
Graça relacional
→ Em Cristo, a graça é vivida no dia a dia: no arrependimento, na fé, no relacionamento com Deus como Pai e no cumprimento dos mandamentos.
-
Deus no Santo dos Santos
→ Na Primeira Aliança, a presença de Deus habitava tanto no Santo dos Santos no Templo, quanto dentro de cada um de nós. -
Deus habitando em nós
→ Atualmente não há templo em Jerusalém, porém nós somos o Templo vivo. Deus habita no coração dos que creem (Jo 14:23; 1Co 6:19).
Esse é o ponto de João 1:16 — graça sobre graça.
Não é uma substituição, é uma plenitude.
A mesma fidelidade de Deus, agora mais próxima, mais profunda, mais viva.
💬 5. Devocional: O Que Isso Diz Pra Mim?
Você não precisa “merecer” perdão — mas isso também já era verdade no Antigo Testamento.
A diferença agora é que o Cordeiro foi entregue de uma vez por todas. Você não precisa correr até o Templo — o Templo veio até você.
Você não tem que “pagar” por sua salvação. Você recebe — como os judeus no Yom Kippur.
Só que agora, o sacrifício foi eterno.
“Está consumado.” (Jo 19:30)
E agora? Agora você pode:
-
Desfrutar da presença de Deus em paz.
-
Aproximar-se dEle sem medo.
-
Olhar para o Antigo Testamento e dizer: “Ali também havia amor e graça.”
🛐 Oração Devocional
Senhor,
Obrigado por me mostrar que Tu és o mesmo ontem, hoje e sempre.
Que a Tua graça não começou no Novo Testamento, mas já estava presente na Tua Lei, na Tua misericórdia, na Tua paciência com o Teu povo.
Obrigado por Jesus, que não veio me tirar da Lei, mas me levar à plenitude do Teu coração.
Ensina-me a viver nessa graça sobre graça — com gratidão, com humildade, com fé.
Em nome do Cordeiro, amém.
Seja o primeiro a comentar!